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FOUCAULT E O IMPÉRIO DAS OPINIÕES 

A entrevista de Michel Foucault concedida ao jornalista J. O’Higgins, em 1982, é uma posição que nada contra a correnteza, pois em tempo de pós-verdade o que vale são as opiniões, impressões e convicções. Nossos devaneios e preconceitos são mais verdadeiros do que a verdade, pois por nossas convicções mantemos nossos olhos e ouvidos bem fechados para os fatos da realidade, o que lembra George Orwell, no seu livro 1984, quando escreveu: “O partido recomenda rejeitar as evidências coletadas através dos seus olhos e ouvidos. Esse era seu comando mais definitivo“. É a máxima do partido do grande irmão em ação: IGNORÂNCIA É FORÇA. Assim, paradoxalmente, vivemos num tempo denominado ERA DO CONHECIMENTO, mas que na verdade não passa de um império das opiniões. Todos se consideram competentes em todas as áreas do conhecimento e por isso sentem-se à vontade para lançarem nas redes sociais suas opiniões e impressões vagas e superficiais sobre todos os assuntos. Criamos um mercado onde se vendem toda sorte de opiniões, e o pior é que estas opiniões, vomitadas nas redes sociais são aceitas no mercado dos trouxas como verdades, porém muitas não passam de preconceitos.

Sobre essa postura, Michel Foucault apresenta uma postura radicalmente oposta. Vejamos um trecho de sua entrevista concedida ao jornalista J. O’Higgins, em 1982.

J. O’Higgins: – “Essa valorização do contexto cultural e do discurso que as pessoas têm a respeito de suas condutas sexuais é reflexo de uma decisão metodológica de contornar a distinção entre predisposição inata à homossexualidade e condicionamento social? Você tem posição a esse respeito?”

Foucault: – Não tenho estritamente nada a dizer sobre esse ponto. Sem comentários.

O jornalista não ficou satisfeito com a resposta do filósofo, e retoma metralhando três questões.

J. O’Higgins: – “Você acha que não há uma resposta para esta questão? Ou que esta é uma falsa questão? Ou simplesmente ela não o interessa?”

O pensador de forma enfática respondeu: Foucault: – NÃO, NADA DISSO. Eu simplesmente não creio que seja útil falar de coisas que estão além de minha competência. A questão que você coloca não é de minha alçada e eu não gosto de falar de coisas que realmente não constituem o objeto do meu trabalho. Sobre esta questão eu tenho somente uma opinião, e por ser uma opinião, é sem interesse.

Ainda não satisfeito, o entrevistador continuou parado na mesma estação e voltou a insistir.

J. O’Higgins: – “Mas as opiniões podem ser interessantes, você não acha?”

Foucault [retomou sua argumentação]: – É verdade, eu poderia dar minha opinião, mas ela apenas teria sentido na medida em que todos fossem consultados. Eu não quero, sob pretexto de que estou sendo entrevistado, me aproveitar de uma posição de autoridade para fazer comércio de opiniões.

O que me chamou muita atenção nessa entrevista, foi a postura de Michel Foucault, postura ética e comprometida com a verdade, o oposto daquilo que temos atualmente nas redes sociais, onde todos se consideram competentes para emitir sua opiniões, seus valores individuais e seus preconceitos como expressões da verdade absoluta. Fazemos um comércio de opiniões sem medida. Assim, penso que precisamos ter muito cuidado neste império das opiniões: cuidado com aquilo que estamos vendendo e com aquilo que estamos comprando como verdade neste mercado das opiniões das e nas redes sociais, pois algumas “verdades” são apenas opiniões vagas, superficiais, ou deliberadamente um fake news.

Entrevista completa de Michel Foucault:



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