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BELEZA OCULTA

A BELEZA OCULTA

Existe uma beleza oculta na vida, ela se encontra nas pequenas coisas do dia a dia, na rotina cotidiana do espaço doméstico, por isso imperceptível. Mas o que podemos fazer para não perdermos de vista essa beleza oculta?

Em primeiro lugar, é essencial não burocratizarmos nossas relações interpessoais. Precisamos manter vivo o prazer da convivência com e na delicadeza.

Em segundo lugar, não podemos banalizar a vida, vivendo no piloto automático, ficando ausentes quando na verdade estamos próximos das pessoas, quando ficamos desligados do mundo real e apenas conectados nas redes sociais como se só este mundo virtual fosse importante. As pessoas de carne e osso ao nosso lado merecem nossa atenção e carinho, é fundamental conversarmos olhando nos olhos. Nada de ficarmos apenas conversando com as pontas dos dedos num teclado e ignorar completamente quem está ao nosso lado, ou ficar semi-presente balbuciando respostas vagas e levianas, sem oferecer a atenção devida e necessária que alimenta as relações afetivas.

Não quero com isso demonizar ou «vilanizar » as redes sociais, tenho consciência do papel social importante deste meio de comunicação e interação social. Apenas sinalizo para o que está se tornando uma patologia social. É fato que muitas pessoas hoje usam em excesso as redes sociais e se distanciam ou tornam-se uma ilha, isso é coisa fácil de constatar, basta uma rápida observação de alguns cenários públicos, tais como bares, restaurantes, entre outros lugar para percebermos pessoas dando muito mais atenção a máquina em sua mão do que as pessoas de carne e osso a sua frente ou ao seu lado. Como falei, sei também que essa mesma rede social aproxima pessoas distantes. Acredito que precisamos buscar o equilíbrio do pêndulo, nem tanto ao mar, nem tanto a terra. O certo é que não podemos culpabilizar uma ferramenta pelo nosso mal uso… A vida flui…. Se transforma, e precisamos nos adaptar de forma equilibrada às novas formas de comunicação sem negligenciar os diálogos olho no olho nas nossas relações interpessoais, ter um contato corpo e alma. Ser presença completa isso é fundamental, mas não é simples nem fácil, por isso cada vez mais raro. Porém , isso não quer dizer que não vamos ser afetivamente próximos, via redes sociais, dos nossos amigos geograficamente distantes. Nessa interação temos também a beleza oculta da vida, manter viva uma amizade apesar da distância e do tempo…

Em terceiro lugar, não podemos deixar as ilusões do vivido sufocar o que ainda podemos viver. O passado não pode determinar o presente. Muitas vezes nós deixamos ser atropelados pelos acontecimentos, damos vida ao que já morreu. Não abraçoando o novo, não nos permitimos viver novas experiências, e ficamos acorrentados ao passado, com isso ficamos cegos à beleza da vida. Do mundo devemos guardar somente suas delicadezas. Além disso, parece que queremos impedir o fluir da vida, negando as novas existências, numa luta para paralisar as mudanças. Uma coisa impossível, pois mudança na e da vida é algo inexorável. Tudo muda o tempo todo, vivemos os altos e baixos, as alegrias e tristezas, as aventuras e as desventuras, mas mesmo em baixa, a beleza oculta da vida está lá, nas experiências vividas com intensidade e veracidade. Evidente que a dor ofusca essa beleza e momentaneamente não a enxergamos, por causa das situações ordinárias de tristeza. Entretanto, a sua beleza oculta e importância está lá. Viver é reconhecer que o presente está repleto de beleza. Porém, quando as perdemos sentimos um grande vazio, percebemos que tiraram algo de nós, estava ali e num instante sumiu. Foi retirado de nós. Neste instante, por causa da ausência àquela beleza oculta fica radiante, porém é tarde. O que resta é a grande tristeza de ficar contemplando, recordado as alegrias vividas. O melhor na vida é podermos reconhecer essa beleza antes de perdermos. Afirmar a rotina, pois nela temos a beleza oculta, naqueles pequenos detalhes banais do cotidiano que queremos repetir com entusiasmo e alegria, pois são as banalidades do cotidiano, estes detalhes pequenos que dão sentido a nossa vida. A beleza oculta se apresenta nestes detalhes. Não podemos esquecer isso. Aí podemos nos perguntar: «eu vivo hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade ? ». Essa é a grande questão do eterno retorno de Nietzsche. Viver cada instante com intensidade, desejando repetí-lo N-vezes. É no presente que se vive a beleza da vida, como escreveu o escritor francês André Gide, no livro frutos da terra: que o hoje seja apenas hoje, sem o peso do ontem e sem a ansiedade do amanhã. Precisamos abrir os olhos para beleza oculta da vida cotidiana que se encontra no presente.



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